7 Insights de como Rickson Gracie exercita seu autocontrole
Uma figura intrigante
Quem me conhece sabe que desde muito cedo o meu “futebol” sempre foi as artes marciais, Eu devia ter uns 12 anos, e já tinha no meu quarto o poster do Bruce Lee do filme Operação Dragão. Ironicamente, mesmo sendo fã do Bruce, não pratiquei kung fu, mas judô, caratê, boxe, e principalmente jiu jitsu foram esportes que fizeram parte da minha vida.
Quando conheci o Jiu jitsu ensinado pela família Gracie, eu tinha em torno de 20 anos. Isso foi um pouco antes dele se tornar mundialmente conhecido com o primeiro UFC em 1993. Na época, eu estava na faculdade e para ver lutas de vale-tudo você assistia gravações em fita vídeo cassete de lutas reais onde o jiu jitsu enfrentava outras modalidades. Meu fascínio pela chamada “arte suave” foi instantâneo e comecei a mergulhar no universo da jiu jitsu cada vez mais.
Tive a oportunidade de treinar com o grande Mestre Flávio Behring que foi aluno de Hélio Gracie e entre uma técnica e outra ouvia as histórias e ficava especialmente intrigado em saber mais sobre um membro especificamente da família: Rickson Gracie.
As respostas
Considerado pela grande maioria dos praticantes da arte suave como o maior lutador de jiu jitsu e vale tudo que já existiu, sempre tive uma curiosidade infinita para saber mais por que ele era tão bom. Como era o seu treino, seu estilo de vida, seu mindset.
Pois 30 anos depois de me interessar sobre jiu jitsu, Rickson Gracie lançou o livro Respire, que respondeu totalmente minhas maiores curiosidades. O livro é um grande relato histórico para todos que se interessam por arte marciais e julgo ser “obrigatório” a todos que querem se aprofundar em conhecer a mente de um grande lutador. O livro é riquíssimo em detalhes sobre o estilo de vida e os eventos que mais marcaram a vida deste grande samurai moderno.
Os insights
ATENÇÃO: se você não gosta de spoilers, compre o livro do Rickson, e depois de termina-lo volte para este post.
Neste post quero destacar alguns dos principais ensinamentos com relação com relação a autocontrole que tirei do passado e presente de Rickson e trazer para você.
1- Conforto no desconforto: esse é um mantra que Rickson aprendeu desde cedo e sem dúvida contribuiu muito para levá-lo a um nível diferente dos seus oponentes. Rickson conta uma passagem muito interessante que ainda muito jovem, depois de se sentir sufocado e ser derrotado por estrangulamento em um treino. Rickson ficou frustrado porque achou que havia se precipitado e que poderia ter mantido maior controle e revertido a situação. Chegou em casa e tomou uma decisão inusitada, pediu para seu irmão enrola-lo num tapete da casa. A intenção era passar um bom tempo no escuro e no calor (imagine isso no Rio de Janeiro) e serenar sua mente mesmo num ambiente caótico. Este exercício ainda foi repetido algumas vezes no ano por ele até ficar satisfeito com seu resultado.
2- Não há vergonha na derrota: desde muito novos os membros da família Gracie foram ensinados que não há vergonha na derrota. Seu pai Hélio Gracie lhe dizia: “Se você ganhar, ótimo! Se não, levante-se e tente de novo!” A experiência de ganhar, perder e empatar era encarada como parte do processo de evolução.
3 – O medo não é seu inimigo: Pelas palavras de Rickson “Se você tem medo de algo que ainda não aconteceu, desistir se torna uma maneira de proteção. O medo não é o inimigo: é um mecanismo a ser trabalhado.” Em sua primeira luta de Vale Tudo, apesar de bem preparado física e tecnicamente, Rickson pensou em desistir pois o adversário não parecia se abalar co seus ataques mais potentes, mas com o apoio dos familiares que estavam no corner voltou no segundo round e derrotou Zulu. A partir daquele dia, Rickson chegou a uma conclusão que mudou a maneira com que encarava a vida. Naquele dia fez um juramento que sempre que se comprometesse com algo, iria até o fim, não importando o resultado.
4 – A respiração como vantagem competitiva: Rickson sempre soube que a mente poderia ser um inimigo maior do que o próprio adversário. Uma das ferramentas mais poderosas usada pelo lutador e que tem relação com o título do livro é a respiração. Suas aulas com o professor de bio ginástia Orlando Cani lhes deram a capacidade de entrar numa luta com a mente descansada e um batimento cárdiaco baixo, apesar de estar com o corpo aquecido. Seu estado de relaxamento e foco era tanto que ele conseguia até mesmo sentir uma conexão espiritual com o adversário. Cansando muito menos e com sua mente muito mais tranquila, seus adversários rapidamente eram derrotados.
5 – Família primeiro: No livro o Rickson fala a respeito de uma das decisões mais difíceis que teve tomar na sua vida. Abrir mão da luta contra Sakuraba. Na época, seu filho Rockson havia sido encontrado morto e Rickson ficou devastado. A bolsa da luta era a maior já oferecida para um lutador U$ 5 milhões. Rickson sentiu que sua maior responsabilidade era com sua família e não queria abandoná-los na hora em que eles mais precisavam dele. Negar a luta, com todas as suas convicções guerreiras, foi muito mais difícil do que seria enfrentar o adversário.
6 – Aceitar a dor e se aperfeiçoar com ela: ainda sobre a morte de seu filho, Rickson conta como enfrentou a maior dor de sua vida. Deixou a tristeza profundo conviver com ele por 3 anos. Se permitiu chegar ao fundo do poço e Aceitou o fato que sua vida nunca mais seria a mesma.
Refletiu profundamente o que poderia tirar de positivo daquela tragédia e renasceu como uma pessoa diferente. “Olhando para traz, vejo que parte de mim morreu e renasceu como uma pessoa diferente, com mais carinho pela fragilidade e preciosidade da vida”.
7- O respeito ao adversário: Particularmente acho muito interessante o modo como Rickson encarava seus combates (principalmente suas últimas lutas de vale tudo no Japão). Apesar de ter adversários que o desrespeitavam em entrevistas que antecediam a luta. Rickson terminava seu combate sereno, de forma respeitosa. Algo que encantou o público japonês e o fizeram refletir que Rickson possuía o verdadeiro espírito samurai. Realmente, muito diferente do que vemos hoje em dia. Mas vamos confessar que como brasileiros, somo sempre muito emotivos, para segurar o ímpeto de dar aquela extravasada na vitória realmente requer um autocontrole muito grande, como é o caso do Rickson.
Esses foram os fatos que mais me chamaram atenção e que de certa forma trouxeram aprendizados ou reforçaram minhas convicções em várias áreas da minha vida. Desnecessário dizer que se você ler poderá encontrar muito mais sacadas pois cada um tem sua forma de “enxergar” a vida 😉